Memórias soltas

Memórias soltas

Estamos num qualquer fim-de-semana em que a TAL tocava, em meados da década de 2000. Como habitualmente, para qualquer Festival a que fossemos (sendo que um Festival começa geralmente numa sexta e estende-se até domingo), nem todos os TALianos vão de viagem na sexta-feira. Outros, por questão de disponibilidade, vão sábado somente. Sendo que normalmente tocávamos sábado à noite, e aí era imperativo que todos estivéssemos presentes.

Sexta era festa, portanto. Porque não íamos subir a palco. Não havia aquele nervoso miudinho de começarmos a preparar as coisas. Depois de uma longa viagem (seja para o Porto, Braga, Aveiro ou outro destino) à malta sabia bem essa descontração. Divertia-se entre troca de palavras e imperiais, jantar, e mais à frente no tempo, num bar ou discoteca nomeado pela organização do Festival, em que se fazia um pezinho de dança, a solo com par local, ou com coreografias de grupo originais, inventadas no momento. Por exemplo, um de nós fazia passos de dança, os outros observavam e imitavam os movimentos ao mesmo tempo. Tal qual bando, nós movíamo-nos em grupo. E bem que sentíamos os olhares surpresos e invejosos, outros até com sorrisos, que acompanhavam este nosso momento na pista de dança.

Entre toda a boémia, já aí se ouvia de vez em quando por um de nós “Não f*dam a voz!” (perdoem o vernáculo). A diversão acontecia, mas a preocupação com a qualidade da música que fazíamos já estava presente.

Sábado, mais para o final do dia, passado o check sound e já jantados, ficávamos no convívio. Seguíamos para um lugar nosso, uma sala que a organização dos Festivais nos destinava. Para afinar instrumentos, para ensaiar, para ultimar eventualmente coisas que ainda não tinham sido finalizadas. Para que tudo estivesse ao pormenor. E para estar ao pormenor, os detalhes são importantes. São os detalhes que nos podem valer uma atuação excelente a uma atuação “OK”. São os detalhes que nos levam e levaram a sermos considerados um grupo sólido musicalmente. De elegância na postura em palco e de qualidade na música. Pelo primor que tínhamos em ter um som que correspondesse aos exigentes ouvidos da Direção Musical e do nosso Maestro na altura.

E porque são esses detalhes que fazem a diferença, o companheiro João “Jó Gabi” Almeida preparava antes de subirmos a palco um chá de perpétuas roxas. Este chá é conhecido por ter propriedades que ajudam a limpar a garganta, as cordas vocais. Ajudava-nos a que o nosso som saísse mais limpo ao cantar. Ou seja, depois de toda a curtidão de sexta à noite, do levantar mais tarde, das ligeiras bebedeiras que pudessem ter tomado acidentalmente conta de nós, tínhamos um pequeno ritual antes de entrar em palco.

Ainda hoje visualizo esse momento e a preparação do chá. Uma chaleira elétrica, as perpétuas roxas, e uns copinhos de plástico. Ficávamos até mais confiantes para cantar afinados. E sim, que cá fora ao frio, mesmo de capa e batina, um chazinho daqueles sabia e caía mesmo bem.

Olhando para trás, este era um momento nosso e uma pequena maravilha da Tuna Académica de Lisboa (que outra Tuna era capaz de fazer o mesmo?). E que bom que era. E que bom o significado e a forma de ser e de estar da TAL, com este “pequeno” detalhe. E que bom que é ter estas memórias soltas.

Muito obrigado, TAL (a de ontem, a de hoje e à de amanhã).

Crónica por João “Meia” Mateus

Tags:
1 Comentário
  • Daniel
    Postado em 09:37h, 29 Abril Responder

    Próximo episódio: Chouriço à Bombeiro! xD

POSTAR UM COMENTÁRIO