Palavras que acomodam o acrónimo TAL, pt1

Palavras que acomodam o acrónimo TAL, pt1

Impossível descrever o sentimento de nostalgia. Acredito hoje que é a vibração interna mais intensa, mais marcante que habita o meu ser. Quando atacado por ela não consigo sequer conceber lágrimas possíveis para a chorar, para a compreender, para coabitar com ela neste plano existencial. Lágrimas que o luto, a saudade e o medo tratam por tu em dias em que as peças do mundo parecem dispersas e desencontradas – não ousam sequer tocar no tremor fracturante de nostalgia. Sei e compreendo que tudo isto poderá ser um pesar pessoal, uma fatia de mim que teima em resistir ao tempo e se esquece da existência dele, apenas para ser emboscado num qualquer amanhecer por dias e meses e anos e (décadas) que já apenas mais não são que retalhos e histórias mal contadas.

Conta-me novamente essas histórias. Ilude a minha percepção sensorial. Convence-me de que ainda lá estou. De que alguma vez lá estive e que foi marcante, que teve significado, que é relevante. Conta-me como se eu não estivesse enganado e engana-me como se eu ainda lá estivesse, neste momento, e sempre… e sempre.

Se o tempo não passasse nunca e eu eternamente buscasse e conseguisse* a razão da minha existência na plácida neblina dos Sóis de meio de tarde; no ardor irrecusável do álcool e do tabaco na minha garganta e no meu ser; na angústia intimamente solitária dos momentos antes de palco (batalha que se trava individualmente mas aos ombros e ouvidos de todos); na viagem sensorial e emocional de mais um Adiós Nonino que me leva para longe e me faz sonhar e ser o que nunca serei, sentir o que nunca sentirei; na eterna busca por ligação e conexão interpessoal com estas pessoas a quem desesperadamente queria chegar e tocar e ser tocado mas que o culto mediterrânico (universal?) da alexitimia me acabará por travar… sempre; e na noite.

*Com a devida e merecida referência a José Joaquim Cesário Verde, imortalizado no coração de muitos estudantes Lisboetas (particularmente aqueles que são utilizadores de Metro).

Crónica por André “Igor” Silva

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